
Depois que Stephanie saiu tomei um grande gole de café e me senti pronta para o trabalho, pedi a ajuda do capitão Chandler para nos auxiliar e me levar até a sala de segurança. A caminho da sala olhei para Peter que estava ansioso já em estado de nervos.
- Bem Peter. Vamos ter que nos virar, mas a notícia boa é que seu filho vai nascer em um dos hotéis mais luxuosos de New York. – tentei acalmar seu nervosismo.
- E como vai fazer isso, Doutora? – Perguntou Peter quando chegamos à sala.
- Você vai ficar aqui fora da sala, sentado esperando notícias, enquanto eu vou lá com minha equipe e faremos todo o possível e te garanto, pela situação, faremos até o impossível para tirar sua esposa e filha daquele elevador. – Assim que terminei Peter se sentou em uma cadeira e permaneceu ali, enquanto todos entravam na sala.
- O que vamos fazer Doutora?
- Um parto, Victoria! – juro que a ouvi expressando um “Yes!”.
- Dra. Bottino – Disse o capitão bonitão dos bombeiros – Não disse nada na frente do marido da sua paciente, mas os cabos do elevador estão comprometidos, ele só está seguro por um cabo de segurança e as travas laterais. Qualquer deslize e o elevador pode despencar a qualquer momento.
Vi a apreensão estampada no rosto de Mark e Victoria.
- E as portas do elevador estão travadas e isso está dificultando a ação imediata. Mas vamos separar as portas e tirá-las de lá o quanto antes. – Continuou o capitão.
- Ok ! – Disse Mark – Você abre as portas e a gente faz o nosso trabalho.
- Não vai ser tão fácil. Nós não temos tempo, o bebê precisa nascer. E pelo o que o capitão disse pode ser que demore mais que Anabelle agüenta segurar.
Fui direto para o monitor, onde um funcionário do hotel acompanhava tudo no elevador. Em uma tela central dava para ver Anabelle deitada no chão, com a bolsa sob a cabeça e uma moça segurando a mão dela. Não dava pra ver o rosto da tal moça, mas parecia que falava algo, pois Anabelle respondia mexendo a cabeça.
- Tem algum modo de falar com quem está no elevador? – Perguntei ao funcionário que monitorava as TVs.
- Pode falar assim que ela atender ao telefone. – Ele me passou o aparelho que tinha acabado de discar.

- Oi – A Moça se levantou e disse em uma voz arfante.
- Olá, eu sou a médica da Anabelle e vou precisar muito da sua ajuda.
- É só dizer o que preciso fazer.
- Muito bem, nós... – Vi que não sabia seu nome – Como você se chama?
- Helen.
- Bem Helen; vou ser sincera com você, a coisa aqui fora está feia...
- O quê...?
- Não! E em hipótese alguma pode deixar Anabelle perceber – Cortei sua fala – Quero essa ela o mais relaxada possível, e se apavorar não vai ajudar muito.
- Um pouco difícil Dra.
- O que estão dizendo? – Ouvi a voz fraca de Anabelle ao fundo – Quem é?
- Sua médica, Anne – Helen respondeu numa voz tão calma que convenceu a qualquer um – pode falar, Dra.
- Os bombeiros estão fazendo o possível para serrar as portas do terceiro e do quarto andar e tem gente tentando concertar o gerador.
- Ótimo!
- Só que pelo que consigo avaliar, Anabelle não poderá esperar mais. Helen, eu conto com você pra me ajudar.
- Certo, farei meu possível. – A vi olhar de uma forma tão doce e ao mesmo tempo tão convicta pra Anabelle, que estava quieta demais pro meu gosto.
- Muito bem, Helen, você terá que ver para mim com quantos centímetros de dilatação ela está.
- Mas como eu faço isso? – Perguntou ela meio desconfiada.
- Com o tato.
- Ah não, Doutora, eu não vou fazer isso! – Respondeu assustada.
- Fazer o quê? – perguntou Anabelle no fundo da linha.
- Mas você prometeu ajudar, Helen.
- Não fazendo um parto! Eu nunca fiz isso antes. – Ela se virou e olhou bem pra câmera no teto do elevador e sussurrou pra mim.
- Você não está sozinha, já fiz isso muitas vezes e você vai ter que me ajudar nessa.
- Doutora, eu não posso.
- Helen, não me decepciona, eu preciso de você! Tem um pai desesperado aqui fora e uma equipe de bombeiros me dizendo que este elevador corre o risco de cair e temos que tirar vocês daí, mas Anabelle não poderá sair antes de dar a luz. Então me ajuda, por favor, e eu prometo te levar pra casa na moto amarela.
Ela olhou interrogativamente pra câmera e eu continuei:
- Vai vizinha gata, por mim.
- Não sei se vou conseguir. – Helen disse sorrindo.
- Vai sim, tente tudo bem?
- Está certo! – Confirmou balançando a cabeça.
- Então vai lá e mede pra mim.
- Como?
- Vê quantos dedos consegue colocar.
Helen deixou o telefone pendurado e foi até Anabelle. Dava pra ouvir a respiração dela controlando a dor. Vi ela dizendo algo que não consegui ouvir e colocar a mão por debaixo do vestido de Anabelle, logo em seguida voltou ao telefone.
- Três, mas... – Nessa hora o grito de Anabelle encobriu o que Helen havia dito e ela voltou correndo pra perto dela. Meus internos estavam com os olhos pregados no monitor, nunca os vi tão calados e concentrados. Era só um parto.
- Ahhh! – Ouvi as duas gritarem no elevador.
- O que aconteceu? – Perguntei, mas Helen não ouvia, estava com Anabelle, falava com ela. Mas logo pegou o telefone.
- O que aconteceu, Helen?
- Essa merda desceu um pouco.
- Tudo bem, passou, nós vamos tirar vocês daí.
- Manda ela colocar no viva voz – Disse o funcionário de Hotel. – O botão azul.
- Ok! Helen, coloca no viva-voz, botão azul. – Ela apertou o botão e foi para junto de Anabelle.
-Oi, Anabelle!
- Doutora, me ajude, por favor.
- Anne, está tudo bem, nós vamos ajudar, tem um monte de bombeiros aqui fora fazendo de tudo para tirar vocês daí. Anne, as contrações como estão? Se lembra dos pré-natais?
- Perdi a conta quando já estavam com menos de um minuto. – Ela respondia chorando.
- Helen, a dilatação. Pode verificar de novo?
Ela pediu licença a Anabelle e mais uma vez sua mão desapareceu embaixo do vestido. Nesta hora Peter entrou na sala e resolvi não tirá-lo de lá, afinal ele estaria ao lado de Anabelle se o parto fosse em condições normais.
- O que ela está fazendo? – Ele perguntou olhando no monitor.
- Medindo a dilatação – Disse Mark – Ela terá que fazer o parto.
- E ela sabe como?
- Não, mas vou ajudá-la. – Respondi – E se quer mesmo ficar aqui, melhor ficar calado.
- Amor! – Anabelle falou num suspiro. Dava pra ver que estava chegando a hora, ela respirava pesadamente e mal conseguia falar.
- Oi, meu bem. – Peter disse no tom mais doce que já ouvi na vida. – Estou aqui, ok. Pode ficar tranqüila que os bombeiros estão serrando as portas e tem toda uma equipe de médicos aqui.
- Isso mesmo. – Conclui – E vai ser rápido. Helen?
- Minha mão é pequena, acho que dá pra passar ela inteira, mas não vou tentar isso.
- Anabelle preciso que você faça força.
- Amor. Estou ai do seu lado, segurando sua mão.
– Disse Peter tentando ajudar.

Anabelle começou a fazer força e nada, Helen disse que dava pra sentir a cabeça do bebê.
- Doutora, não é a cabeça – Disse Victoria – Só pode ser o cordão umbilical.
- Doutora. Estão me informando que conseguiram abrir a porta do quarto andar e vão descer por uma corda. – Informou o funcionário do Hotel.
- Não, diga que eu estou indo pra lá, ela precisa de um médico agora.
- Ok – Ele começou a falar no telefone.
- Helen, Anabelle, não façam nada por enquanto, acho que o bebê ficou preso no cordão umbilical. Eu chego ai em um minuto.
Disse isso e sai correndo da sala, com um equipamento esterilizado em mãos, e pedi que Mark e Victoria continuassem orientando as duas no elevador para qualquer eventualidade. Cheguei no quarto andar num piscar de olhos. Os bombeiros me amarraram com luvas e tudo mais para não sujar as mãos que precisavam estar limpas quando chegasse lá em baixo.
Graças ao rapel, desci pelo elevador sem muita dificuldade e me orientaram para tirar o tampão do elevador. Quando entrei no elevador Anabelle gritava e novamente fazia força, com meus internos a orientando pelo telefone. Me abaixei e comecei a preparar os equipamentos e colocar luvas para poder fazer meu trabalho.
- Anne, Vai dar tudo certo. E daqui a algum tempo poderá contar a seu bebê como foi a extraordinária historia de como ele veio ao mundo.
Aproveitei o momento que ela relaxou e pedi para Helen torcer o cordão umbilical com cuidado para tirá-lo do pescoço do bebê, quando quase imediatamente o bebê pulou para fora da bolsa e segurei- o com uma toalha limpa que trouxe na maleta. O chorinho dominava todo o lugar e dava pra ouvir as pessoas na sala de segurança aplaudindo. Assim, mais um bebê veio ao mundo pelas minhas mãos e pela primeira vez da Helen também. Logo depois, pedi auxilio de Helen para limpa-lo e cortar o cordão, limpamos tudo e preparamos Anabelle para sair dali.
- Anabelle, parabéns, é uma menina. – Anabelle não queria saber o sexo do bebê antes do parto então, ficou muito surpresa com a notícia, coloquei a criança no seu colo enrolada na toalha que tinha trago.
Não havia percebido o elevador se mexer, mas as portas já estavam abertas e estávamos no saguão do Hotel, com os bombeiros e meus internos cuidando de tudo para levar mãe e filha para o Hospital e alguns fotógrafos tirando fotos para as manchetes no jornal. Pela primeira vez naquele dia tumultuado olhei para Helen e sorri.

- Bom trabalho, vizinha.
- Eu não sei o que dizer. – Ela sorria também e lágrimas de felicidade saiam dos seus olhos.
- Tenho que ir até o hospital, você deve vir também para ver se precisa de alguma coisa.
- Estou bem. Minha mãe está me esperando no quarto, deve estar se perguntando por que estou demorando.
- Você foi incrível hoje.
- Fica me devendo uma carona.
- Tudo bem, acertamos depois. – sai correndo para fora do hospital e entrei na ambulância com a certeza de ter tido mais um ótimo dia de trabalho.
No hospital nos certificamos que estava tudo bem com mãe e filha, que teve que ser posta na incubadora, já que nascera prematura. Depois de ajeitada toda a situação uma enfermeira me informou que a irmã de Thomas estava no hospital com um tumor no cérebro, mal acreditei no que acabei de ouvir, então sai correndo para ver com meus próprios olhos. No meio do caminho Angélica me ligou dizendo que estava indo pra casa. Apesar de ter chegado ao hospital mais cedo do que esperava, não poderia ir pra casa curtir minha namorada com toda aquela situação com Thomas.
- Angie, eu já estava indo pra casa, mas ocorreu um problema.
- Mari eu sei, Karen e Jake chegaram aqui em casa com uma criança. – Angélica falava séria demais para a situação.
- Angie, você não está indo embora cedo demais? Amanhã ainda é domingo. – Perguntei esperando que ela não dissesse o que eu já estava esperando.
- Mari, eu só não posso mais viver com tudo isso, você com o hospital, você e seus amigo e nunca um espaço suficiente para mim.
- Ok, Angélica, por favor, não faça isso, eu sei que me comprometo demais, mas...
- Mari, não tem mais, precisamos dar um tempo.
- Angie. – Ela desligou o telefone com um beijo e se foi, assim simplesmente. Como se o tempo que vivêssemos fosse um nada. Estava ali parada em um corredor de hospital, esperando um despertar para poder crer no que acabara de ouvir.
Entretanto não podia ficar desse jeito, decidi deixá-los de lado. Não podia sofrer agora que Thomas precisava mais da minha ajuda. Continuei andando para vê-lo, tentando não pensar em Angélica.
*****
THOMAS

Depois daquele momento de nostalgia fraternal entre mim e Diana, ela cochilou em meus braços. Algum tempo depois meu amigo Clark me chamou à porta do quarto, me levantei devagar para não acordá-la e sai fechando a porta para poder conversar com o ele.
- Muito bem, Clark. O que tem pra me falar? – Perguntei apreensivo.
- Meu amigo, as notícias não são muito boas. O tumor está em um estágio muito complicado e localizado em uma região de difícil acesso, qualquer cirurgia nesse momento ela poderia morrer.
- Mas dá pra fazer a cirurgia? – Olhei para Clark desesperado, ele me olhou por um momento em silêncio.
- Thomas, ariscar é difícil, mas...
- O que estou perguntando é se dá pra fazer a cirurgia, Clark.
- Tom, ele não vai poder te responder essa pergunta. – Melinda chegou por trás de Clark.
- Veja Tom, eu não posso fazer uma cirurgia sabendo que é a sua irmã que está em um estado terminal vai está em cima daquela mesa e você esperando que ela saia de lá bem, eu não vou ser responsável, ou melhor, o irresponsável que matou sua irmã.
- Mas, Clark, Diana é minha única irmã, ela sempre fez de tudo por mim. Eu não posso simplesmente deixá-la assim sem uma chance. – Comecei a me alterar com Clark ali mesmo no corredor.
- Tudo bem Thomas! Nós vamos conversar com sua irmã de manhã, falar sobre suas possibilidades e se ela decidir pela cirurgia terá a cirurgia. – Clark me deu as costas e começou a andar.
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- Clark! Ela pode não ter até amanhã! Clark! – Me sentei em uma cadeira no corredor e quando parecia não ter mais lágrimas, elas começaram a rolar pelo meu rosto – Ela tem um filho. – Sussurrei por fim.
- Tom. – Não tinha percebido que Melinda ainda estava no corredor – Entendo sua luta, entendo que queira ver sua irmã bem, mas o bem para ela agora não é sofrer em um hospital, tentar uma cirurgia que poderá matá-la.
Assim que Melinda terminou de falar escutamos o alarme vindo da sala de Diana, corremos para vê-la. Diana estava convulsionando em cima da cama, já tinha visto uma cena parecida antes, mas nunca imaginaria minha irmã naquele estado, o choque foi tão intenso que eu travei assim que abri a porta do quarto. Melinda me chamava para ajudá-la, mas não conseguia me mover, logo em seguida Clark chegou para auxiliá-la.
- Thomas, Tom, você está bem? – Mariana me chamava quando abri os olhos, estava em outra sala, minha cabeça pesava muito e ainda sentia uma náusea estranha. - Mari, o que você está fazendo aqui?
- Bem, já amanheceu, passei a noite na pediatria com uma paciente. Melinda já me contou o que aconteceu. Diana, que barra hein.
- Nem me fale, não estou mais suportando Mari. Isso tudo parece um pesadelo.
- Mas não é Tom, essa é a vida real e você tem que encarar isso tudo de frente. Eu sei que é a Diana, mas tenta pelo menos uma vez não ser o herói do dia e escute o que ela tem a dizer, tenho certeza que ela não está aqui apenas para lhe entregar o Cody e morrer. – Mariana era um doce de pessoa que a primeira vista me pareceu a pessoa mais frágil do mundo, mas me enganei quando nos conhecemos, ela era uma das pessoas mais fortes que já conheci – Thomas, você é um cara calmo, respeitável, todos nós te procuramos quando queremos algum conselho ou alguma ajuda, Agora é a nossa vez de tentar te ajudar, só abre espaço.
Mariana chegou para o lado e percebi que todos meus amigos, que toda minha família estava ali tentando me apoiar, Andy trouxera Cody e Jake também tinha vindo com Karen que até a manhã do dia anterior não sabiam de nada que estava acontecendo. Nossa, parecia que tinha passado anos nas ultimas horas. Fui até o banheiro, joguei uma água no rosto e me aprontei para poder ir conversar com Diana, que soube também de todos os fatos da ultima noite, que eu tinha desmaiado depois de travar diante da sua convulsão.
- Thomas! O meu Deus, você está bem. – Diana parecia preocupada com meu estado.
- Estou bem Di, mas queremos conversar sobre o seu estado.
- Eu tomei uma decisão, Tom.
- Diana, seu caso é muito delicado, por que não deixamos Tom terminar de falar. – Interveio Clark.
- Não. Eu quero a cirurgia. Se vocês podem fazer eu aceito que façam, o risco de morte é apenas uma das possibilidades. Há uma coisa maior pela qual eu preciso lutar.
- Seu filho? – Concluiu Clark.
- Não, minha família. – Todos no quarto olharam ainda mais fixamente para ver sobre o que Diana estava falando – Eu sei que se não estiver aqui, vou fazer alguma falta, mas ela será superada; eu sei que se não fizer a cirurgia, eu posso ter algumas semanas para aproveitar minha família, eu sei disso tudo. Entretanto, se eu não tentar fazer com que eu possa ter um longo tempo para poder aproveitar ainda mais este grupo de pessoas que me amam, eu não chegarei feliz onde quer que exista além desse mundo. Sendo assim, Dr. Clark, eu quero a cirurgia.
- Bom, se é assim certificarei que tudo ocorra o melhor e mais rápido possível.
- Obrigado, Dr.
Clark saiu da sala junto com Melinda, que deu um abraço em Thomas de boa sorte. E todos saíram aos poucos até restarem apenas eu e Diana. Ela parecia ter certeza da decisão que tomou, então não quis questioná-la. Me conformei com o que aconteceu e não por que ela escolheu minha opção, que era a cirurgia e sim por que não fazia mais sentindo correr, já que de todas as decisões a ultima palavra tinha que ser um desejo de Diana e não meu, do Clark ou de qualquer outra pessoa.
- Diana, obrigado por tentar.
- Tom, só me prometa cuidar do Cody?
- Não precisa nem pedir, Diana.
- Não, só me prometa, tudo bem?
- Está certo, eu te prometo cuidar do Cody como se fosse meu próprio filho, mas acho que é mais fácil aquele garoto cumprir a promessa dele de cuidar de mim em vez do contrário.
- Eu sei, ele é bem genioso. Mas por dentro daquele homenzinho de cinco anos tem uma criança Tom, que precisa de cuidados, embora não pareça a idade que tem.
- Exatamente, quem diria que ele tem apenas cinco anos. – Rimos da conversa para nos distrair um pouco.
Depois que conversei com Diana, deixei Cody passar um tempo com ela até os enfermeiros chegarem para os pré-operatórios, o dia seria muito agitado e não era um local para crianças, então pedi novamente para Andy levá-lo para casa. Cody veio até mim e disse que eu não poderia ficar sozinho e que preferia ir com Jake e Karen para casa, para Andy poder ficar comigo. Todos riram da maneira de Cody falar, mas aceitamos sua proposta.
Já tinha passado algumas horas desde que a cirurgia começou e Andy permaneceu o tempo todo ao meu lado me reconfortando. Não conseguia ficar sem me preocupar, entretanto Andy manteve o autocontrole durante todo o tempo. Não tinha fome nem sede e por algumas vezes não queria conversar. Como não fazia nada além de me preocupar, Andy me levou até minha sala e trancou a porta.
- O que você está fazendo, Andy?
- Bem, eu sei que não quer falar, até agora. Não quer comer, nem beber nada. Mas eu sei de alguma coisa, mesmo sendo inapropriada para o momento, que a gente pode fazer para você parar de se preocupar um pouquinho. Agora é você que precisa de cuidados.
Andy se aproximou e me deu um beijo, que não pude me conter, não conseguia pensar em mais nada. Comecei a arrancar nossas roupas e a beijar Andy com uma intensidade descomunal, deitamos na mesa do escritório e nem percebemos quando jogamos tudo que estava em cima no chão. Estava impressionado comigo mesmo com o sexo que estava tendo com Andy, depois de toda aquela tensão, Andy percebeu que tinha que me descarregar e resolveu o problema com o melhor sexo que fizemos em nossa vida.
Entretanto, depois de todo aquele amor me senti arrependido do que fizemos, enquanto Diana estava em uma mesa cirúrgica agarrada a sua ultima esperança de vida.
- Andy, isso não foi errado? - Disse enquanto o acariciava, estávamos deitados no chão do consultório com apenas um lençol de alguma maca nos cobrindo.
- Tom, o que há de errado no amor? Tudo bem que tem toda uma situação lá fora, mas aqui somos só eu e você. E você estava precisando relaxar um pouco. Pode ter sido errado, mas quem é que pode nos julgar por tentar acalmar a tempestade em um momento de fúria?
- Você deve estar certo. Mesmo sendo errado valeu a pena, estar aqui com você, como se o meu mundo fosse em seus braços. – Andy e eu nos abraçamos e ficamos ali por um bom tempo, até que pudessem notar nossa ausência.
Saímos da sala tendo a certeza de que estava tudo no seu lugar. Voltamos para o corredor do lado de fora da ala das salas de operação. Pouco tempo depois Melinda saiu da sala dando a notícia de que tudo corria bem até o momento e que Diana permanecia Instável, quando meu telefone tocou.
- Karen? Está tudo bem ai? – Perguntei apreensivo.
- Não Tom, Cody começou a falar que a Diana não está bem, mas todos vamos ficar bem. – Karen parecia aflita.
- Como é? Coloca ele na linha, por favor. – Esperei um segundo – Cody, Cody, está me ouvindo, o que aconteceu meu bem?

- Tio, mamãe não está bem, ela não vai melhorar, você precisa se acalmar, nós vamos ficar bem, não precisa ter medo. – Cody falava freneticamente, mas me parecia calmo ao telefone.
- Karen, como isso aconteceu? – Perguntei quando ele devolveu o telefone para Karen.
- Não sei, a um segundo atrás ele estava dormindo e acordou falando desse jeito. Thomas, ele disse que um anjo falou com ele.
- Meu Deus, Obrigado Karen, eu te ligo mais tarde.
- Melinda, entra lá dentro e vê o que está acontecendo, por favor? Depois que Melinda entrou na sala contei tudo que Karen me falou ao telefone, ele não acreditou no que estava ouvindo. E comecei a achar que Melinda estava demorando demais para voltar com notícias.
- Calma Tom; ela pode estar ajudando na cirurgia, vai correr tudo bem você vai ver.
- Desculpa Andy; não dá. – Olhei para ele com um olhar que não queria nunca que ele visse em mim.
- Você está com remorso. Thomas, não foi minha intenção, eu...
- Não, não é isso, Andy. Eu posso estar com remorso, mas não de você, não do nosso amor e eu não quero descontar em você. É só toda aquela tensão voltando. Me desculpa.
- Tudo bem.
Melinda voltou. Algum tempo depois, olhou Andy e logo para mim. Não precisou expressar nenhuma palavra, eu já sabia, porém não queria acreditar. Melinda tentou explicar as complicações que tiveram na cirurgia, entretanto não ouvia, não ouvia mais nada, apenas gritava e chorava como se o mundo tivesse aberto um buraco onde eu cairia se não fosse o abraço de Andy para me segurar no chão.
O primeiro sentimento da morte é a rejeição, não podia acreditar que aquela manhã tinha conversado com Diana e agora era impossível crer que ela não estava mais aqui, como se ela tivesse pulado uma janela na sala de cirurgia, como fazia quando criança para fugir de casa. Depois vem o sentimento de que poderíamos ter feito alguma coisa, que tudo aquilo poderia ser diferente da realidade na qual não conseguimos aceitar. Não conseguimos aceitar pelo menos até passar toda a raiva, a revolta da perda daquela pessoa que fez a diferença em nossas vidas. Então caímos na perda e na saudade, no sentimento que nos faz lembrar os atos da pessoa amada, no que ela fez de bom, nos momentos de alegria e felicidade até percebermos que aceitamos a sua passagem nas vidas das pessoas que deixou. Mas até a aceitação, temos certeza de um longe caminho pela frente.
*****